O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane fez uma das suas mais fortes declarações desde a crise pós-eleitoral de 2024, afirmando que na altura "era possível chegar ao poder pela força". Na mesma entrevista, o agora Conselheiro de Estado manifestou estar "totalmente disponível" para que a sua imunidade seja levantada para poder ser julgado pelas acusações de terrorismo e outros crimes de que é alvo.
Numa entrevista à agência Lusa, Mondlane revelou a sua análise do auge da contestação popular, que resultou em cerca de 400 mortos. "Havia todas as condições para ser feito. Praticamente toda a estrutura operativa policial estava desestruturada (...), já não conseguiam ter a capacidade repressiva", afirmou.
No entanto, o político explicou que a sua decisão de regressar ao país em janeiro de 2025 foi precisamente para evitar esse desfecho. "Eu como cristão eu sei muito bem que (...) quem chega ao poder pela força também pela força é retirado, então eu não poderia de forma nenhuma conformar-me com essa possibilidade", justificou.
Enfrentando acusações do Ministério Público que incluem instigação ao terrorismo e incitamento à desobediência coletiva, Mondlane, que goza de imunidade por ser membro do Conselho de Estado, desafia o sistema. "Estou totalmente aberto, disponível para ir a esse julgamento", declarou, enquadrando um potencial processo judicial como uma "grande oportunidade" para a sociedade moçambicana esclarecer se o que ocorreu foi "violência pós-eleitoral" ou "uma espécie de um genocídio frustrado do próprio povo".
O líder do partido Anamola reconhece que o processo judicial pode ser uma estratégia dos seus oponentes para inviabilizar a sua candidatura às eleições presidenciais de 2029, mas garante ter uma "estratégia do contra-ataque" que não irá, para já, divulgar.
