A paz interna na Renamo parece longe de ser alcançada. Apesar do anúncio de Ossufo Momade de que não se recandidatará à liderança, a ala dos desmobilizados de guerra, uma das mais críticas à sua gestão, considera a medida insuficiente e exige a sua demissão imediata.
Em entrevista à rádio DW África, Edgar Silva, porta-voz do grupo, afirmou que esperar pelo fim do mandato é condenar o partido ao fracasso. "As bases do nosso partido estão dilaceradas (...). Se continuarmos assim, em 2029, a RENAMO já era", sentenciou.
Segundo Silva, o grupo dos desmobilizados não se sente representado pelas decisões do recente Conselho Nacional, do qual afirmam ter sido excluídos, e critica que a promessa de Momade de não se recandidatar "ainda tarda", referindo-se a 2029. A proposta dos descontentes é clara: que Momade "coloque o seu lugar à disposição" de livre vontade, podendo até manter os seus direitos e benesses "na sombra", enquanto uma nova figura com capacidade para "aglutinar a família Renamo" assume o leme.
As acusações de Edgar Silva são graves, chegando a comparar o atual presidente a Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética. "Nós temo-lo como o Gorbachov na nossa organização, que tudo vai fazer para que, no fim, nos entregue à sorte sei lá de quem – talvez do diabo", declarou, acusando Momade de trabalhar com um "grupinho habituado às benesses que o governo do dia dá".
O porta-voz fez ainda questão de se demarcar de outras figuras proeminentes do partido, como Elias Dhlakama e Alfredo Magumisse, afirmando que estes "não são nossos representantes. Nós agimos por conta própria".
A crise na Renamo, agravada pela queda para a terceira posição nas últimas eleições, continua assim ao rubro, com os desmobilizados a prometerem "continuar a fazer démarches" para forçar uma mudança imediata na liderança.
