A primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, passou a ser retratada como uma ameaça aos interesses russos, num movimento surpreendente da propaganda próxima ao Kremlin. A mudança marca uma viragem na narrativa russa sobre Donald Trump, que antes era elogiado como um presidente simpático a Moscovo.
Num artigo recente publicado pelo jornal Vzglyad, alinhado ao regime russo, Melania foi descrita como “uma ameaça subestimada à Rússia”, com o título irónico: “O perigo de Melania Trumpenko para a Rússia foi subestimado”. A alcunha faz alusão ao seu alegado apoio à Ucrânia.
“Seria melhor para ele comprar-lhe sapatos do que vender mísseis Patriot a Kiev. Seria mais barato”, ironizou o artigo, referindo-se às promessas de Trump de enviar armamento à Ucrânia.
O texto também sugere que Melania teria influência direta sobre as decisões do presidente norte-americano. Trump teria inclusive afirmado que era a esposa quem o informava sobre novos ataques russos na Ucrânia.
A campanha de hostilidade ganhou força também nos meios televisivos estatais. Olga Skabeyeva, apresentadora do popular programa “60 Minutes”, acusou Melania de ser uma “agente ucraniana” — uma reviravolta curiosa, já que no passado era apontada como possível espia russa nos EUA.
Imagens antigas da primeira-dama têm sido reutilizadas em reportagens com tom de escárnio, sugerindo que estaria a pressionar o marido contra o Kremlin. O analista político russo Malek Dudakov tentou amenizar, dizendo que o casal “tem certos problemas conjugais” e que Melania “nem sequer vive com Trump”.
Apesar das especulações sobre uma separação entre o casal, desmentidas pela Casa Branca, a imprensa russa insiste em pintar Melania como uma figura influente na mudança de postura de Trump em relação à guerra.
A ofensiva mediática surge num momento em que o presidente dos EUA promete intensificar o apoio militar à Ucrânia, incluindo o envio de sistemas Patriot e novas sanções contra Moscovo.
Enquanto isso, os bombardeamentos russos continuam, mesmo com a Ucrânia a demonstrar abertura para diálogo. As exigências territoriais impostas por Putin, no entanto, mantêm as negociações travadas.
A imagem de Melania como “nova esperança para os ucranianos” agora circula tanto em Kiev como entre dissidentes russos, ilustrando como até mesmo figuras tradicionalmente discretas podem tornar-se símbolos geopolíticos num conflito que redefine alianças e narrativas globais.